Mais Perto do Céu
Há décadas os lixões tem sido um grande problema no Brasil, mesmo já tendo data marcada para acabar. Estima-se que mais de 46 milhões de pessoas, vivam em locais sem gerenciamento adequado de lixo, e mais de quinhentas mil dependem exclusivamente da revenda de lixo reciclável para pôr o pão em cima da mesa. Desde muito antes do início da pandemia, já passamos por uma situação de empobrecimento da população, porém a constante investida de setores da sociedade contra direitos civis e suas estruturas garantidoras só piorou nos últimos anos. O que tem resultado em um aumento significativo no número de pessoas em busca da sobrevivência em cima das rampas de lixo Brasil adentro.
Ali na parte mais elevada da cidade durante o período entre 2021 e 2022 A série “mais perto do céu” nasceu quando me juntei aos esforços de uma rede de voluntários para fornecer segurança alimentar e serviços básicos para mais de 60 famílias que vivem e trabalham no lixão local. O que se desdobrou mais tarde através deste esforço conjunto na concretização de um curso profissionalizante de corte e costura gratuito para as mães de família da comunidade. Curso esse sugerido pelas próprias beneficiadas, devido a alta demanda de profissionais da área no município. Isto chegou como um alento para as famílias em situação de risco, embora algumas tenham conseguido se encaixar no mercado de trabalho o quadro geral não muda. Para uma reviravolta verdadeira em um problema tão estrutural somente uma mudança sistemática seria suficiente, pois enquanto houver lucro na desumanização esse cenário se perpetuará.
Inicialmente meu trabalho seria apenas de registro para fins de prestação de contas o material mais sensível ficaria guardado em arquivo mas após meses de labuta, com diversas adversidades e tentativas de cerceamento impostas pelos mesmos setores antes mencionados chegou a um ponto de ruptura quando a própria existência da comunidade foi negada publicamente por figuras políticas da cidade em meios de comunicação locais. Tal fato me motivou a tornar público esta série de fotografias. Inspirado pela filosofia da fotografia do bem querer de João roberto ripper e Tendo em vista a ampla variedade de experiências humanas presentes, busquei construir uma relação de diálogo que possibilitasse quebrar as barreiras, E entender os desafios de ter de existir entre o sonho de um futuro sustentável e a realidade da desigualdade social. Onde até mesmo o próprio processo de transformação dos lixões em aterros sanitários, acaba por muitas vezes criando mais exclusão.Quando remove do debate os próprios trabalhadores já desgastados pelos trâmites da política coronelista no interior do nordeste. Sem nenhuma alternativa, muitos têm um futuro incerto pela frente.

Estréia da exposição em junho de 2021:
Alunas do curso de corte e costura em novembro de 2021:
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